TCC de estagiário do MHN vira artigo e é publicado em periódico internacional

“Em fevereiro de 2020, o Gustavo procurou o museu em busca de estágio na área de Herpetologia”, disse Filipe Nascimento, biólogo e atual diretor do Museu de História Natural da Ufal. “Ele iniciou os trabalhos na curadoria da coleção, mas nada muito específico”. 

Gustavo Moreira, de 25 anos, é bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alagoas, ex-estagiário do museu e, atualmente, mestrando pela Unesp (Universidade Estadual Paulista). 

Segundo ele, desde que se entende por gente, sempre teve um grande interesse e curiosidade pelo mundo natural. “Quando eu fui prestar o Enem, não me via fazendo qualquer outra coisa que não fosse relacionada a animais”. 

Logo no começo do curso, percebeu que sua vontade era pesquisar e, assim, foi em busca de oportunidade para ingressar numa Iniciação Científica. Gustavo participou de um projeto de pesquisa voltado a organismos e ecossistemas aquáticos, foi quando ele descobriu o apreço que tinha pela área. 

“Perto do final dessa pesquisa, pude ir em uma expedição de campo com o pessoal da Herpetologia do museu e, a partir daí, eu me apaixonei pelos anfíbios”, confessou. 

Durante esse tempo, Gustavo assistiu a uma aula sobre girinos, que inclusive foi ministrada por Filipe Nascimento. O jovem pesquisador compreendeu, então, que o estudo desses organismos unia as duas coisas que tanto gostava: anfíbios e ecossistemas aquáticos.

Na coleção de Herpetologia do Museu de História Natural, havia um lote de girinos da espécie Crossodactylus dantei, rã endêmica do município de Murici, em Alagoas. Por causa de outras demandas, o lote não havia sido estudado desde sua coleta. "Eles [girinos] ainda eram desconhecidos pela Ciência, precisavam ser estudados, estavam esperando para serem descritos”, relatou o diretor do museu. 

Em concordância com Barnagleison Lisboa, responsável pela expedição que encontrou os girinos, Gustavo Moreira foi designado para iniciar as pesquisas com a espécie. Crossodactylus dantei, tornou-se, desse modo, objeto de estudo de seu Trabalho de Conclusão de Curso, que foi orientado por Filipe.

De início, seria um TCC apenas sobre os girinos, mas surgiu a possibilidade de ampliar o trabalho e desenvolver estudos acerca do canto da espécie, também registrados por Barnagleison, e da parte molecular, aspecto que contou com o auxílio de Tamí Mott, professora do ICBS (Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde).

“Sugeri que o Gustavo trabalhasse também a questão do posicionamento filogenético, evolutivo dessa espécie, em relação aos demais membros do gênero, utilizando dados moleculares", explicou o orientador do estudante. E assim aconteceu.

O que começou com uma pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso, resultou num artigo em periódico internacional. “Inicialmente era para ser somente meu TCC, porém a coisa foi crescendo, tomando forma e a gente decidiu publicar os resultados em uma revista científica”, comentou o agora mestrando pela Unesp.

Somada às contribuições de professores e pesquisadores, a pesquisa de Gustavo culminou no artigo “Larval morphology, vocalisations, and phylogenetic position of Crossodactylus dantei (Anura: Hylodidae): new insights into a little-known anuran species”, publicado no periódico “Herpetological Journal” da The British Herpetological Society. 

Quando questionado sobre a importância do desenvolvimento de pesquisas, o estudante ressaltou que, para além da contribuição no currículo, “você vai exercitar aquilo que aprendeu durante a graduação, vai desenvolver sua redação científica, seu pensamento científico acima de tudo". 

Ele ainda deixa um recado: "se você é um graduando e lhe foi dada a oportunidade de escrever um artigo ou de entrar em um TCC ou PIBIC, que eventualmente possa vir a ser um artigo, vai a fundo, porque não vai só ser excelente para o seu currículo, mas também você vai se desenvolver bastante como profissional e cientista”.